#7 | Por ser daqui
Concentro as emoções, miro nos corações/E canto aquilo que eu vou ser por ser daqui
Os meses entre a última publicação e esta foram, como sempre, intensos e cheios de emoção, mudanças de planos, recálculos de rotas e aqui estou de novo tentando descobrir o que será de Orgânico, concluindo, por fim, que este espaço será casa de várias partes de mim, mas, principalmente, lugar em que eu falarei, mostrarei, cantarei sobre a minha cidade.
E é dela que falo hoje, em seu aniversário de 75 anos. Nunca me vi como as pessoas que se apaixonam e vivem intensamente sua cidade, mas quis o destino, quis a vida que eu me tornasse uma delas e que bom.
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Por ser daqui
Eu não nasci aqui, mas cheguei a esta cidade aos três anos, época em que eu ainda não me conhecia por gente. Portanto, minhas primeiras memórias são daqui, bem como minhas primeiras amizades e relações com o outro, da mesma forma que a história mais marcante da minha vida, que teve esta terra como berço e cenário. Então, não tenho outro lugar de onde ser senão daqui.
Passei por outras terras, outros cantos ao longo dos últimos quase-trinta anos. Nasci em um lugar, afinal, São Bernardo do Campo, de onde saí para vir para cá aos três. Aos doze, início da adolescência, fase difícil em todos os sentidos, mudei para Itatiba, cidade do primeiro encontro com a vida real, com seres humanos diferentes daqueles com quem convivo desde o berço, lugar onde eu passei mais tempo dentro do que fora e, por isso, talvez, tenha querido e feito tanto esforço para fugir. Então, voltei à minha terra natal para estudar onde, desde criança, dizia que iria estudar: a casa que formou meus pais; a casa que me formou e me deu mais uma família para chamar de minha — meus melhores amigos e meu companheiro.
Mas lá era caos. Depois de certo tempo, já não me via construindo a vida daquele lado de São Paulo e, pouco antes de me formar, tinha em mente que queria voltar para o interior. No capítulo da galinha em apartamento, falei sobre isso em mais detalhes. E voltei. Voltamos. Ele e eu para começar, mais uma vez, a nossa vida. Voltei para Jarinu, depois de 15 anos. Ele se apaixonou por Jarinu antes mesmo que seus pés tocassem essa terra; que sorte a nossa.
Apontamos no mapa esta cidadezinha menor que Itatiba, bem menor que São Bernardo, mas infinitamente maior em lembranças, afetos e um calor que só a sua primeira terra pode oferecer.
Ao chegarmos, tudo o que víamos era tudo o que queríamos; tudo em que acreditávamos e tivemos certeza de que era este o lugar onde queríamos fincar nossas raízes, como mudas em terra boa, que vingam e frutificam, florescem.
Durante todos esses anos distante, a terra que eu dizia que era a minha era esta. Era daqui que eu dizia de onde eu vinha. Foi ao crescimento desta cidade que assisti de longe e celebrava em silêncio.
Quando meus pés tocaram este que, mais que terra, mais que cidade, é lar, já estava certa de que o tempo de assistir à distância havia passado e o que eu queria, agora, era fazer parte desse crescimento. Construir junto, usar as minhas mãos para plantar, colher, moldar e fazer o que faço de melhor: escrever. Escrever esta terra, escrever esta história junto a tantos outros que tenho o prazer de conhecer e a felicidade de andar junto.
Hoje Jarinu completa 75 anos. Quando cheguei aqui, há 26 anos, minha cidade completava 49, mas eu me lembro bem mesmo do seu aniversário de 52. Nesse tempo, vi bastante coisa acontecer, mas tenho muita certeza e convicção de que o melhor é agora. Mais que isso, o melhor está e vai continuar acontecendo.
Pessoalmente, tenho muito a comemorar por estar aqui e viver esta cidade; pela primeira vez nos meus quase-trinta anos, viver uma cidade — coisa que tentei fazer em outros cantos sem ter entendido que minha cidade é esta aqui.
Agora entendi e sussurro as palavras de uma de minhas bandas favoritas:
Recolho as impressões, curo desilusões
E faço algum refrão das coisas que vivi
Concentro as emoções, miro nos corações
E canto aquilo que eu vou ser por ser daqui
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